Eternizado

Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula
Arranquei teu coração e empalei teu corpo com niazílium; costurei teus lábios e te levei ao lago de crânios sob um céu de estrelas infindas. Amei-te e beijei-te como uma ninfa, eu jamais olvidarei de nosso momento. Tornei-te eterno em meus braços, mesmo sem teres alma e ser. Entretanto, juro que ouço teu sussurro nas noites mais escuras e até o teu respirar aflito — criações de minha mente angustiada com a saudade, certo? Eu não sei. Agora, um corpo tão só traz-me o prazer e não o amor. Fui notando que a cada novo momento ao teu lado naquele pântano de morte, a maldição de meu ato impulsivo avultava-se e espargia-se como um fungo pernicioso. Tuas cavidades oculares enegrecidas e teus olhos naquele vidro na cabeceira tornaram-se meu maior tormento e mesmo agora, escrevendo, após guardá-los no sótão junto ao teu corpo empalado, sinto tua presença em meu dorso.
Texto publicado na Edição 12 da Revista Castelo Drácula. Datado de janeiro de 2025. → Ler edição completa
Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e criadora de Ars OAN mor — para apreciadores de sua literatura intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. Ars OAN mor é o pertencente recôndito de Sahra e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
Leia mais em “Contos”:
Algum tempo antes de se tornar demônio, Asmodeus foi homem. Rei de Sodoma e de Gomorra, senhor absoluto das cidades gêmeas…
Eclipse é uma velha e aconchegante estalagem logo à entrada da cidade. Sempre usada por viajantes e também por aqueles que buscam a…
Hoje faz cinco meses desde a grande mudança. Da imagem veio a idealização, a concepção e a efetivação. Ouvi o chamado retumbante…
No alto de um dos galhos eternos da Yggdrasil, a grande árvore que sustenta os nove reinos, duas figuras antigas contemplavam o vazio. Acima delas…
Escrevo esta carta porque devo explicações aos meus familiares e queridos amigos, já que sumi há anos e, decerto, sou dada como morta…
Acordou em um sobressalto, o coração anunciando que o perigo estava à espreita. Mais uma vez aquele estranho sonho, pesadelo. Outra vez…
Numa manhã escura de novembro, muito fria e de constante chuvisqueiro, após o término da missa, que aquele apaixonado casal frequentava…
“Escuta-me”, disse o Demônio, pousando sua mão sobre minha cabeça. “A terra de que te falo é uma terra lúgubre na Líbia, às margens do rio Zaire. E ali, não há quietude…
O relato impressionante do inestimável amigo Capitão João ressoou no seu subconsciente como uma ancestral canção arcana, esquecida…
Agachada sob a sombra crepuscular, olhei e vi um ancião cujos olhos exaustos caiavam seu espírito perverso; o que, se por mim fosse evidente…
Desperto sobre um chão asséptico, duramente frio, cheirando a desinfectante recém-passado. Sento-me devagar, estou desorientado…
A densa floresta acastanhada, honrava um outono etéreo e silente. Uma atmosfera enevoada, do mesmo tom borgonha…
38 minutos de leitura
Noutros tempos, quem a conhecera ainda na flor da juventude jamais diria que tal pessoa pudesse chegar a uma situação tão degradante…
Antemanhã de lua cheia, lôbrega em névoa rubra. Outono e decadência, a morte encíclica brinda, hoje ou amanhã, a todos os que residem no…
O solitário castiçal iluminava as cartas sobre a escrivaninha. Sua luz trêmula projetava…
Era quase madrugada, e o alvoroço na casa da rua não cessava. Henrique pegou a arma que guardava no cofre e caminhou até a janela…
Certamente, não era o melhor lugar do mundo para se estar. Contudo, também não se poderia dizer que era o pior antro de perdição já existente…
Acordou num sobressalto. Os sonhos pareciam vívidos. Arturo não descansava…
A profissão de sommelier de vinhos lhe proporcionava cada vez mais satisfação. Os clientes pediam bastante por vinhos…
Tinha uma bruxa na lua... | Eu sei, | Eu vi. | Subia, ao fim da rua, num ruído verdejante de poeira... poeira de livro velho. | Pó de cravo, sálvia do inverno…
Acordei com o som das engrenagens daquele maldito relógio que ressoa em minha mente. O barulho ensurdecedor que nunca cessa não é…
Estou diferente. Não sei dizer exatamente o que, mas estou. As interações com o ambiente parecem ter adquirido novas roupagens…
Olhos de pútrida esperança; entre o frígido derredor, onde as mãos do insondável inverno conduzem a pequenez de seres irrisórios. Ela se aproxima…
Nas pequenas cidadelas e nos ermos lugarejos onde o tempo parece ter parado e a modernidade ainda não se fez presente, onde as formas de…
Abria os relicários das casas em que entrava, remexia fotografias e roubava pedaços de carta. Amaria tanto o mar... e quão bela era a Macedônia!…
Vestiu-se, apressada, do manto grosseiro rumo ao ôco do inverno. Cavalarias, praguejos, convites de funeral… o inferno a incendiar os céus!…
Ismael viveu toda a sua vida intimamente com o medo, que era seu melhor amigo, amante e confidente. Sentia-se perseguido a todo momento…
Certa noite, enquanto as notas cítricas de um vinho chileno me aqueciam, recebi um e-mail de um velho amigo. Após lê-lo, fiquei feliz e respondi que…
Como de costume, ela caminhava sozinha pelos corredores do castelo, seus longos cabelos negros reluzindo com um brilho…

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
O arvoredo de carvalhos era rodeado por árvores altas e robustas que se aglomeravam em formato circular, um pequeno riacho se estendia…