A Casa dos Quatro

Imagem criada e editada por Sahra Melihssa, para o Castelo Drácula
Outro inverno, outro dia no inferno, outro nascer de fraco sol. Dói, Maria, a víscera dessa saudade... Apague o fogo! Abafe o chá; aonde vai, pai? Não é hora de ir descansar?... leve flor pra Elizabeth. Ao menos leve flor. Onde anda o passarinho?... Onde anda o meu amor?! “Dorme num canto de estrada, morto e mal enterrado...” – Cala-te, sombra maldita! Criatura nojenta que se esgueira... Oh, e Aninha? Já banhou? Pois vá! Tire essa lama velha do cabelo. Penteie a menina; já comeste a tangerina? A chuva... a chuva há de chegar.
Aonde vai, Pai? Mal voltou... puseste a flor de Beth? Leve, agora, a de Maria. Ora, onde foi Marta? Sem ela a casa para... onde foi a aurora?
Morreste o céu do dia?... Amanhã, lava amanhã a roupa e o chão da casa. Bater bolo, no canto açucarado da cozinha, pra dormir de bucho alegre. Pro dia surgir novo. Volta ele, morno em cachaça. Fecha a porta. Aquele outro vagabundo não vem. Hoje não... que fechem, com ele dentro, as portas do bar; amanhã o bolo espera.
- E tu, menina, comeste tangerina?
- Comi não, Marta. Aonde foi?... Por que demorou pra voltar?
- Fui porque ainda não brota a comida no chão da casa, mas diga, por que chora? Sei que chora. Não tenhas tu a esperteza de me enganar.
- Nada... nada. Outro dia frio; tô cansada do inverno. Tô é sendo boba, nem tem por que chorar. – Há a vida de banhar de sol esse pinheiro, tão mirrado. Há de corar a bochecha do dia... há de brotar a begônia num outro luar.
Texto publicado na Edição 14 da Revista Castelo Drácula. Datado de fevereiro de 2025. → Ler edição completa
Vivendo por entre bibliotecas e saraus, desde o início de sua juventude a autora Lídia Machado vem tecendo íntima conexão com a poesia e com a escrita. Primariamente, cronista e fabuladora nas aulas de redação. Depois, aos quinze, jornalista estagiária as quais saía…
Leia mais em “Contos”:
Algum tempo antes de se tornar demônio, Asmodeus foi homem. Rei de Sodoma e de Gomorra, senhor absoluto das cidades gêmeas…
Eclipse é uma velha e aconchegante estalagem logo à entrada da cidade. Sempre usada por viajantes e também por aqueles que buscam a…
Hoje faz cinco meses desde a grande mudança. Da imagem veio a idealização, a concepção e a efetivação. Ouvi o chamado retumbante…
No alto de um dos galhos eternos da Yggdrasil, a grande árvore que sustenta os nove reinos, duas figuras antigas contemplavam o vazio. Acima delas…
Escrevo esta carta porque devo explicações aos meus familiares e queridos amigos, já que sumi há anos e, decerto, sou dada como morta…
Acordou em um sobressalto, o coração anunciando que o perigo estava à espreita. Mais uma vez aquele estranho sonho, pesadelo. Outra vez…
Numa manhã escura de novembro, muito fria e de constante chuvisqueiro, após o término da missa, que aquele apaixonado casal frequentava…
“Escuta-me”, disse o Demônio, pousando sua mão sobre minha cabeça. “A terra de que te falo é uma terra lúgubre na Líbia, às margens do rio Zaire. E ali, não há quietude…
O relato impressionante do inestimável amigo Capitão João ressoou no seu subconsciente como uma ancestral canção arcana, esquecida…
Agachada sob a sombra crepuscular, olhei e vi um ancião cujos olhos exaustos caiavam seu espírito perverso; o que, se por mim fosse evidente…
Desperto sobre um chão asséptico, duramente frio, cheirando a desinfectante recém-passado. Sento-me devagar, estou desorientado…
A densa floresta acastanhada, honrava um outono etéreo e silente. Uma atmosfera enevoada, do mesmo tom borgonha…
38 minutos de leitura
Noutros tempos, quem a conhecera ainda na flor da juventude jamais diria que tal pessoa pudesse chegar a uma situação tão degradante…
Antemanhã de lua cheia, lôbrega em névoa rubra. Outono e decadência, a morte encíclica brinda, hoje ou amanhã, a todos os que residem no…
O solitário castiçal iluminava as cartas sobre a escrivaninha. Sua luz trêmula projetava…
Era quase madrugada, e o alvoroço na casa da rua não cessava. Henrique pegou a arma que guardava no cofre e caminhou até a janela…
Certamente, não era o melhor lugar do mundo para se estar. Contudo, também não se poderia dizer que era o pior antro de perdição já existente…
Acordou num sobressalto. Os sonhos pareciam vívidos. Arturo não descansava…
A profissão de sommelier de vinhos lhe proporcionava cada vez mais satisfação. Os clientes pediam bastante por vinhos…
Tinha uma bruxa na lua... | Eu sei, | Eu vi. | Subia, ao fim da rua, num ruído verdejante de poeira... poeira de livro velho. | Pó de cravo, sálvia do inverno…
Acordei com o som das engrenagens daquele maldito relógio que ressoa em minha mente. O barulho ensurdecedor que nunca cessa não é…
Estou diferente. Não sei dizer exatamente o que, mas estou. As interações com o ambiente parecem ter adquirido novas roupagens…
Olhos de pútrida esperança; entre o frígido derredor, onde as mãos do insondável inverno conduzem a pequenez de seres irrisórios. Ela se aproxima…
Nas pequenas cidadelas e nos ermos lugarejos onde o tempo parece ter parado e a modernidade ainda não se fez presente, onde as formas de…
Abria os relicários das casas em que entrava, remexia fotografias e roubava pedaços de carta. Amaria tanto o mar... e quão bela era a Macedônia!…
Vestiu-se, apressada, do manto grosseiro rumo ao ôco do inverno. Cavalarias, praguejos, convites de funeral… o inferno a incendiar os céus!…
Ismael viveu toda a sua vida intimamente com o medo, que era seu melhor amigo, amante e confidente. Sentia-se perseguido a todo momento…
Certa noite, enquanto as notas cítricas de um vinho chileno me aqueciam, recebi um e-mail de um velho amigo. Após lê-lo, fiquei feliz e respondi que…
Como de costume, ela caminhava sozinha pelos corredores do castelo, seus longos cabelos negros reluzindo com um brilho…
O arvoredo de carvalhos era rodeado por árvores altas e robustas que se aglomeravam em formato circular, um pequeno riacho se estendia…