1. Castelo Vampírico


MidjourneyAI
Diário de Rute Fasano
21 de outubro — Envolvida na análise de vários artigos científicos sobre os processos biológicos da morte e sua relação com a natureza, busquei compreender os mitos e tabus que cercam a morte. Essa atenção afasta minha mente da melancolia da sobrevivência, proporcionando-me um breve descanso mental. Ao me distrair nas redes sociais, fui abordada por um chamado para fazer parte do Castelo Drácula. Ao investigar, percebi que seria necessário provar minha aptidão, o que me fez hesitar. Optei por deixar de lado e preparar um café forte para estimular meu cérebro cansado, retomando a leitura dos artigos. Porém, a ideia persistente de que talvez aquilo fosse para mim, continuava a me inquietar. Deixando de lado os estudos por um momento, busquei antigos escritos pessoais que, em outros momentos, me proporcionaram paz de espírito. Será que integrar o Castelo seria o problema que minha alma necessita para essa melancolia que me encontro?
Insatisfeita com todos os escritos, reescrevi aquele que se aproximava mais da paz que buscava, o enviei e agora espero ansiosamente por uma resposta. E agora estou incapaz de me concentrar nos estudos aos quais estava focada anteriormente.
Sair um pouco da minha reclusão e me conectar com outros indivíduos semelhantes parece ser a escolha lógica a ser feita?
30 de novembro — Recebi a notícia da minha aceitação no Castelo e, junto com ela, “A carta” que estabelecia minha ligação ao pacto de sangue da linhagem Drácula. Embora tenha ficado ansiosa por essa confirmação, uma sensação de temor apertou meu peito, embrulhou meu estômago e despertou minha síndrome da impostora. Por que, meu caro cérebro, você insiste em me sabotar?
3 de dezembro — Prevendo que talvez a jornada até o castelo seria longa e desgastante, vesti roupas e botas pretas confortáveis. Preparada com o essencial na mochila — livro, diário, folhas de rascunho, caneta e uma garrafa de água — não tinha ideia de para aonde ir, mas senti que ao começar a andar encontraria o caminho. Uma sensação intensa de paz e familiaridade tomou conta do meu ser, aguçando meus sentidos. Era como se eu estivesse retornando a um lugar que nunca visitei, mas conhecia o caminho.
Passando por um belo cemitério no percurso, não pude deixar de observar toda a fauna e flora local. Era surreal ver plantas fora de época coexistindo, várias flores, todas em tons escuros, entrelaçando aromas. Árvores, também diversas, que faziam parte da paisagem, atraindo uma variedade de animais, dos que eu pude observar, morcegos, mariposas, aranhas, lagartos, sapos, que, por sua vez, atraíam gatos, cachorros, corujas, urubus e corvos. Havia variedades de cogumelos, outros animais, plantas, rios e lagos, tudo formava um ecossistema fascinante e estranho, mas que naquele momento eu não poderia pausar para dedicar um tempo e observar todos os detalhes.
Essa diversidade incomum de vida selvagem e vegetação peculiar me cativava, guiando-me em direção ao caminho do castelo, em meio a esse cenário de fantasia sombria ou uma versão às avessas de folhetos de uma certa denominação cristã. Diversas espécies compartilhavam um espaço que não parecia ser o seu habitat natural. Não conhecia a exata localização do castelo, apenas sentia a necessidade de alcançá-lo. Se alguém me perguntasse sobre como chegar, não teria uma resposta precisa, mas estava certa de que havia chegado. Me questionava se toda essa diversidade não era algo criado pelo próprio castelo para me guiar até ele, como uma espécie de estrada de tijolos amarelos. Se assim fosse, significaria que o destino final prometia algo bom?
O castelo era sombrio, envolto por uma sutil névoa e algumas árvores de galhos retorcidos, exibia várias torres altas que se elevavam como espinhos negros afiados, prontos para romper o céu noturno estrelado. Sua arquitetura não seguia padrões, com torres irregulares que pareciam capazes de brotar a qualquer momento para acomodar novos aposentos. Janelas obscuras, grandes como os olhos de sentinelas, decoravam a estrutura. Ao chegar à imponente porta de madeira maciça, bati três vezes, ela se abriu com um leve rangido, fui prontamente recebida por uma figura misteriosa vestida de preto da cabeça aos pés. Com um sorriso discreto, fez sinal para que eu pudesse entrar, e pronunciou com calma e cortesia:
— Seja bem-vinda ao castelo! Entre por sua livre e espontânea vontade. Vá com segurança e deixe um pouco da felicidade que você traz!
A menção ao livro Drácula arrancou de mim um sorriso breve. Fui guiada pelos corredores labirínticos, cheguei a uma sala iluminada por velas em majestosos lustres e castiçais. A decoração, repleta de quadros e esculturas, revelava um intrigante anacronismo, onde elementos clássicos e contemporâneos convivem em harmonia, não apenas na decoração, mas também nas pessoas presentes.
Na longa mesa central desta sala, indivíduos de aparência misteriosa aguardavam, ansiosos assim como eu, pela chegada de outros membros. Todos sedentos pelo conhecimento sombrio que nos aguardava. A entrada da anfitriã chamou a atenção de todos. Com olhos profundos e uma presença tranquila, nos cumprimentou com serenidade, pronunciando as seguintes palavras:
— Bem-vindos, sombrios visitantes, ao majestoso Castelo Drácula. Este recinto suntuoso serve de abrigo para aqueles destemidos que ousaram adentrar os domínios das sombras, desbravando os abismos do profundo e desvelando os mistérios do oculto. O castelo, qual entidade viva, nutre-se vorazmente de toda expressão artística mergulhada na obscuridade, transcendendo as fronteiras do tempo e do espaço.
Então era das narrativas, da poesia, da música e de todas as formas de arte que o castelo absorvia para se nutrir? Fiquei fascinada com a ideia de o castelo ser uma entidade viva. As artes eram como o fluido vital escarlate que alimentava o castelo, lhe dando vida, grandiosidade e uma aura acolhedora. Eu pude sentir a relação simbiótica entre o castelo e seus membros, estabelecida a partir do momento em que o pacto foi selado. Quanto mais fosse oferecido a ele nossos dons artísticos, mais seríamos beneficiados com uma inspiração sombria. Fiquei bastante curiosa para entender os mistérios do castelo e, também, ser beneficiada com essa experiência. Acredito que meu tempo no castelo será bastante proveitoso e mal posso esperar pelo que o futuro reserva.
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Valesca nasceu no Rio de Janeiro (RJ), cursa Ciências Biológicas, encontra-se no último período. Tem paixão por ciências, subcultura gótica, livros, seres sobrenaturais, ficção científica, cemitérios, igrejas e morcegos, ela também é voluntária em um projeto de divulgação científica chamado "Morcegos na Praça". Escrevia com frequência, mas afastou-se da prática ao ingressar na faculdade. No entanto, durante a pandemia, retomou a escrita como meio de…
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