8 - Quando a ciência se cala, Deus fala
Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula
Diário de Sibila von Lichenstein
10 de outubro de 1870.
Estás aí, ó grande Rei dos reis,
entre as paredes deste castelo sepulcral?
Tua infinita sabedoria, ó Cientista do Universo,
penetra as muralhas mágicas onde hoje habito?
És santo e sagrado o bastante para isso?
Pois se és, ó Senhor da infinita misericórdia,
eu rogo, eu imploro, pelo teu poderoso perdão.
Tuas pobres ovelhas, fui eu quem atraiu.
Com voz doce, chamei-as ao altar do carrasco.
Prometi salário, dei-lhes sepulcro.
Vendi minha alma por promessas de um homem
que se dizia mestre — e era coveiro.
Desejava ser médica, divina entre os mortais...
e tornei-me discípula do profano.
O hematoma em meu pescoço,
limo do pacto pecaminoso sob minh’alma.
Uma vida ilibada eu manchei,
concordando com suas equações pecaminosas
em monstro eu me transfigurei.
Tu me julgas digna de tua vingança — ou perdão?
Ou serei pó amaldiçoado à margem de tua criação?
Privada de meu pai, em nosso casebre o demônio me encontrou,
um mestre-deus da ciência que, em troca da minha decência,
sob o facho do arco voltaico da medicina — me exibiu.
Todos admiravam nossa inteligência: o mestre e sua pupila devota.
Tu me alçaste aos livros, me pagaste e me acolheste.
Entre as paredes da universidade: tua pupila aplicada.
Entre os lençóis de teu quarto: o velho amante aceito em silêncio.
A morte de Eleanor foi tua segunda máscara que caiu,
e em silêncio te entreguei a minha amiga mais cara.
Além de barregã, agora eu também era assassina.
Depois dela, outras seguiram para o vale da sombra da morte...
Quem dera eu ter essa sorte, pois minha vida tu já tomara...
Zombavas da morte, ser o mestre-deus da ciência não te bastava!
Teu saber te enlouqueceu — e tu quiseste o trono d’Ele.
Liberta-me, ó Deus, da cela onde eu mesma me enclausurei.
Perdoa-me se ouso proferir Teu nome,
pois arrasto o pesado cajado da morte em minha confissão.
Prostro-me, temerosa, diante de Tua justa punição,
mas anseio, por meio dela, o meu sagrado perdão...
Por favor, por favor... se Teus divinos olhos este castelo alcançam,
venha salvar a Tua mais humilde serva da escuridão
Rogo do negro e profundo umbral, ergo o olhar além do véu.
Tudo aquilo que a ciência sequer alcançou...
isso tudo repousa sob o eterno toque de Deus.
Tu és alfa, e tu és ômega.
Em mim a mácula reside, no Teu abraço a remissão.
Eu ignoro o meio de como me perdoar,
mas em Teus olhos brilha a luz da salvação.

Mergulhe em um mundo suspenso entre a morte e o delírio. Sibila desperta em um castelo cercado por campos de lavanda e vozes sussurrantes, sem saber como chegou ali, tem apenas a certeza de que matou Viktor Frankenstein. Mas naquela terra onde o tempo se desfaz e os mortos sussurram, certezas são as primeiras a apodrecer. Inspirado no universo de Frankenstein, este romance gótico reinventa personagens clássicos que desafiaram a morte e pagaram o preço. » Leia todos os capítulos.

Aryane Braun
Aryane Braun é curitibana por nascimento, amor e dor. Formou-se em Letras pela UFPR e possui duas graduações na área da educação. Atualmente, trabalha em uma biblioteca de um colégio público em Curitiba e adora o que faz, pois ama o ambiente que os locais de ensino proporcionam. Afinal, que lugar melhor para trabalhar do que uma biblioteca para alguém que sempre gostou de literatura, antes mesmo de compreender o que ela representa em seu intelecto?... » leia mais

Esta obra foi publicada e registrada na 17ª Edição da Revista Castelo Drácula, datada de junho de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula. © Todos os direitos reservados. » Visite a Edição completa.
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