Diário de Áurea Lihran — Trecho nº1

Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula
Elas se calaram… as vozes do meu abismo. E agora perduro em Selenoor como quem a ela pertence, uma rainha índigo de sangue e solidão. Em uma profunda tristura, vejo-me irreconhecível em meu âmago, perdida no esquecimento. Vejo Rosaemoris congeladas no tempo, aguardam-me em uma paciência serena. Ouço corvos brancos próximos, nos céus de tom azul-marinho, eles crocitam minha angústia. Eles são como o triste piano em meu peito, o agouro da minha condição.
Mesmo sem lembrar do que vivi, a saudade é a lágrima que verte em um carmesim profundo, dos meus olhos aos meus lábios. “Selenoor é esta lua lúgubre que vês, doce vestal, ela te irriga como planta rara; ouça-a azulescida em teu peito…” — Cantara Lahgura até desaparecer como miragem. Como é sê-la? Poderosa, mágica… quem é Lahgura? Quem sou? Esta anil atmosfera enternece-me… é sopro de melancolia e temo que redigir essa abíssica verdade, leva-me ainda mais em sua silente imersão hostil.
Alguém bate à porta, suave como mãos femininas… creio ser uma visitante disposta a me salvar do meu azúleo afogamento interior.
Texto publicado na Edição 12 da Revista Castelo Drácula. Datado de janeiro de 2025. → Ler edição completa
Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e criadora de Ars OAN mor — para apreciadores de sua literatura intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. Ars OAN mor é o pertencente recôndito de Sahra e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
Leia mais em “As Crônicas do Castelo Drácula”:
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A caneta falha, como se a tinta temesse escrever ou sou eu que temo?
Encarei o vazio nos olhos do abismo, | onde a flama ardia como lava do vulcão à beira da eclosão…
Um corpo estirado à beira do lago, arranhões e sangue lhe cobrem o rosto, pólvora e lama tingem as suas vestes…
Uma monodia litúrgica bizarra atravessara nossas almas, tão mais que os tímpanos. A morte parecia habitar o derredor, as velas tremeluziam…
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Sem Data — Já não sabia se era noite ou dia. As trevas da cela ocultavam até o tempo de minha mente. O ar da cela era denso, imóvel, como se…
Minha cabeça dói exacerbadamente. Não sei por quantas horas dormi — só sei que gostaria de ter permanecido lá, mesmo que isso significasse a morte…
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Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
O licor havia se impregnado em minhas papilas gustativas. Meus dedos agitados fazem o líquido viscoso balançar com inquietação dentro da taça…