Xadrez Alterado

Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula
Acordei um dia crendo não ser amado
Com um soluço guardado que não saiu de mim
Era um palpite dos amores mal empenhados
Que tão logo se foram sem ter outro jeito
E uma palpitação no peito que fica, enfim
Comecei a raspar com a lima meia-cana
No golpe do aço, torcendo a pua até que atravessa
O atrito que deforma e lasca a beirada
Esculpindo o xadrez peça a peça
Mas cada uma das peças foi alterada
Eu que inventei esse jogo deixei de criar
as regras, abdiquei de fazer as jogadas
Acordei aquele dia crendo não ser amado
Ah dia, tornaste em mim noite mais cedo
O sol, grande amor, não quer e não se mantém
No desamparo da noite, eu com a lua nos braços
Com a janela do quarto aberta e o medo
Que na manhã seguinte ela me deixe também.
Texto publicado na Edição 11 - Somníria, do Castelo Drácula. Datado de dezembro de 2024. → Ler edição completa
Residente de São José do Rio Pardo, Henrique Siviero formou-se em Física e escreve sobre o que lhe desperta na vida, de experiências particulares às fantasias e tradições. Trabalha atualmente na revisão de seu Romance, possui contos e poemas publicados pela Amazon, dentre eles, estão os títulos "Cruiz Credo" e "Meia Dúzia de Poemas". Henrique se inspira nos clássicos, nos roaring twenties, em sua lista de preferidos estão os nomes de Fitzgeralt e Hemingway…
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No frígido oceano, um coração | Umbroso e azúleo, em trevas olvidado; | Safira de saudade e vastidão, | Cristais salinos, mágoas… insondado…
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Coragem, amor, | pois a vida é ligeira em inundar o que vem vazio. | Cobre-te de ouro e falsa seda, | protege-te do espinho e perderá, também…
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Que fosses ente e crer-te eu sempre iria | No alvor rogar-te em puro amor vestal | Que fosses a Verdade, eu saberia | Honrar-te os mandamentos contra o mal;…