Mudança compulsória
Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula
Dizem que sou reclamona. Eu concordo. Mas discordo quando insinuam que essa característica é “má”. Não se acomodar com as situações adversas é que faz o mundo evoluir... Ou você acha que se o homem estivesse contente até hoje em andar a cavalo ele teria inventado o carro? O ser humano só muda quando algo o incomoda. Muda para benefício próprio. Por conforto.
Outrossim, concordo que tudo que é descomedido torna-se insuportável. Eu sou descomedida. Consequentemente, insuportável. Mas nem sempre me vejo como uma criatura desprezível e isso não interfere na minha capacidade de conviver nessa sociedade — tão desprezível quanto —, mas inconsciente de tal condição.
Sobre os incômodos e mudanças do homem é assustador, porém libertador, quando percebemos que é exatamente assim: a mudança deriva de alguma necessidade intrínseca de cada um. Não tem nada a ver com altruísmo e caridade. Somente interesse. As exceções se dão quando o indivíduo o faz sem ter a plena consciência de seu interesse, acreditando que tudo ocorreu devido à sua própria “capacidade de ser bom”.
Não é pessimismo. É a verdade estridente que nós, se não fôssemos tão românticos, a ouviríamos clara e intensamente. Mas acredito que muitos irão se escandalizar. Normal. Outros dirão que é um absurdo qualquer imbecil dizer-lhes que não agem por bondade. Não julguemos, não é isso o que faço. Só lhes digo que se quiserdes enxergar as coisas mais nitidamente é imprescindível deixarem de lado estereótipos e paradigmas. Este é o começo de qualquer mudança. Deixar de lado o eu utópico e a hipocrisia e, ao menos uma vez, ser sincero consigo.
Ademais, na qualidade de humana, eu também sou interesseira, não me coloco à margem de tal condição. Uns tendem a comparar o quão interesseiros são, como se fizesse alguma diferença. Outros terão a capacidade de se acharem “interesseiros, mas por uma boa causa”, mesma coisa que justificar um massacre. Se for para o bem, tudo podem, assim acreditam.
Seja como for, haja o que houver não poderíamos e nem conseguiríamos mudar o curso dessa embarcação. Não é a minha força de vontade ou meus desejos que fazem as coisas acontecerem, pois são tudo coisas abstratas, será que não entendem? É preciso me apossar de um remo, utilizar meus braços e remar. O Remo por si só também não pode agir. Bem que ele tenta, mas coitado, ele não consegue. Bem que ele queria que seu imensurável “querer” se transformasse em ação. O seu “querer” não é a consumação de sua existência. Ele precisa de alguém para utilizá-lo. Ele precisa de alguém para que seu destino seja consumado.
O quão esforçados somos! Admira-me a nossa tendência para acharmos o melhor em nós mesmos e o pior nos outros. Se falássemos que os outros são interesseiros concordaríamos imediatamente, mas quanto a nós... Justificar-nos-íamos.
Contudo, as coisas precisam ser dessa forma. O mundo precisa continuar em sua órbita normalmente. Não queremos que as mudanças, por vezes compulsórias, nos façam como terráqueos-extraterrestres. É muito ruim ser um extraterrestre, melhor ser só terráqueo, igual aos demais. Tudo igual. É sempre melhor ser primitivo. Ser egoisticamente troglodita é sem dúvida melhor!
Melhor continuar tudo como está?!

Michelle S. Nascimento
Michelle Santos Nascimento é paulistana, mãe, esposa e amante das artes, em todas as suas formas de expressão, desde que aprendeu que há todo um universo fora dela. Ama as ciências humanas, mas também tem predileção pelas exatas, porquanto é graduada em “Segurança da informação”, pós-graduada em “Gestão de TI” e “Engenharia de software” e trabalha como Analista de qualidade de software... » leia mais

Esta obra foi publicada e registrada na 15ª Edição da Revista Castelo Drácula, datada de abril de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula. © Todos os direitos reservados. » Visite a Edição completa.
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